1- Introdução
É possível que o Homo sapiens sapiens seja uma espécie de
transição: aquela que aparece brevemente entre duas espécies mais estáveis e, assim
sendo, comportamentos e decisões menos racionais irão sendo substituídos por um
maior racionalismo, inteligência e sabedoria, num curto período de tempo
geológico.
A capacidade de racionalização do neocórtex humano ainda não
é completamente funcional em grande parte dos indivíduos, talvez mesmo em 50 a
70% da população. Este grupo compensa estas deficiências racionais apegando-se a estruturas de valores consideradas socialmente corretas.
2- Genuína Estupidez
Inevitavelmente a estupidez acaba por se notar mas, graças
ao esforço de mimetismo, ficamos frequentemente na dúvida se essas pessoas
serão realmente estúpidas ou se apenas se fazem.
Na grande maioria dos casos estamos mesmo perante estupidez
genuína.
Alguns dos grandes génios da humanidade têm-se debatido com
esta deficiência do neocórtex mas, curiosamente, sem tentarem uma abordagem
verdadeiramente cientifica do problema. Por exemplo, Albert Einstein dizia:
"Only
two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about
the former."
(Apenas duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez
humana e eu não tenho a certeza sobre a primeira.)
3- Quociente de Estupidez
A estupidez é uma caraterística omnipresente nas sociedades
humanas e não está necessariamente dependente do QI (Quociente de Inteligência). Embora, estatisticamente, se possa descobrir uma correlação com
QIs mais baixos a estupidez também ocorre em QIs elevados. Muito provavelmente
é inversamente proporcional ao QS, o Quociente de Sabedoria: a capacidade de,
com informação limitada, atingir heuristicamente boas soluções.
Pode assim definir-se um QE (Quociente de Estupidez) como
sendo:
QE = 1
/ QS
Dado que somos uma espécie inteligente, as pessoas com elevado
Quociente de Estupidez têm alguma consciência das deficiências que apresentam em
sabedoria e, automaticamente, compensam-nas agarrando-se a valores
tradicionais, ao conservadorismo e às formas de pensar mais generalizadas.
Esta camuflagem social é imperfeita, por vezes a estupidez é
evidente, a tal ponto que podem ocorrer descalabros, quando estes indivíduos
começam a copiar os comportamentos estúpidos uns dos outros, percecionados
então como "maioritários":
Isto sucede nas populaças, onde um elevado número de
elementos estúpidos se reúne para fazer coisas estúpidas, imitando-se entre si,
demonstrando então os muito fracos níveis de sabedoria que possuem.
Nestas circunstâncias as pessoas estúpidas comportam-se como
peixes de cardume, copiando automaticamente as ações das que as rodeiam..
3- Caraterísticas associadas a elevados Quocientes de
Estupidez
3.1- Conservadorismo extremo
Tradicionalismo:
Forte apego ao
que é percecionado por "moral" e "bons costumes"
Incapacidade de questionar valores estabelecidos ou de
aderir a novos:
Fanatismo
Intolerância
Medo de novas ideias e conceitos: Velhos do Restelo
Medo de novas ideias e conceitos: Velhos do Restelo
3.2- Elevada religiosidade
3.3- Tribalismo extremo
Incluindo
Patriotismo, Clubismo, Bairrismo
3.4- Receio do desconhecido e do é diferente
Incluindo Racismo, Xenofobia e Homofobia.
4- Algumas situações tipificadas de Elevado Quociente de Estupidez
4.1- Clubismo
Observar dois
adeptos de clubes distintos a discutir futebol é fascinante, porque um deles
segue o mesmo princípio de defesa cega e intransigente do seu clube, simultaneamente tentando tornar o discurso racional.
Esta dedicação acéfala a uma causa ou fração, percecinada como sua, é, pela sua simplicidade intelectual, extremamente apelativa para indivíduos estúpidos.
4.2- Patriotismo
O patriotismo permite-nos sentir orgulho por coisas que nada fizemos por merecer, além de nascer num determinado país.
Isto permite a pessoas deficientes em sabedoria encontrem algo de que se possam orgulhar e vangloriar, sem nada terem feito por isso. Adicionalmente, os valores patrióticos são seguros porque, socialmente, são extremamente bem vistos.
O patriotismo é normalmente uma das principais bandeiras de ditadores ou de pretendentes a ditadores.
4.3- Idolatria
Os estúpidos têm frequentemente uma relação de quase adoração por lideres e figuras públicas, vistas como "heróis", incluindo desportistas, atores ou políticos. São seguidores por excelência.
4.4- Xenofobia
O não-racismo tem-se
tornado um valor social e os estúpidos assimilam valores sociais portanto, geralmente, não se consideram racistas embora, por outro lado, mantenham o
receio latente por tudo o que é diferente e constitui um desafio à sua
capacidade de avaliação.
Para eles os refugiados e os estrangeiros em geral são assustadores:
São pessoas de hábitos diferentes que falam línguas diferentes, vestem de maneira diferente e têm uma religião diferente. Para os estúpidos isto pode ser um indicador de que são terroristas, ladrões, violadores ou assassinos: No mecanismo de defesa dos estúpidos tudo o que é diferente é automaticamente classificado como perigoso.
4.5- Religião
Os estúpidos têm incapacidade de questionar os valores assumidos pela sociedade e também se sentem confortáveis com tradições e rituais, portanto são particularmente
suscetíveis à segurança dos dogmas religiosos. Em certas zonas do mundo,
tornam-se presas fáceis de seitas multimilionárias.
4.6- Autoritarismo
4.7- Politica e eleições
A política é um dos
campos onde é fundamental estudar as pessoas de fraco Quociente de
Sabedoria, porque condicionam decisivamente a sociedade, incluindo também aqueles que têm
um neocórtex plenamente funcional.
Frequentemente as
partidos e candidatos fazem campanhas orientadas para tais 50 a 70% de estúpidos e depois governam nações inteiras.
5- A estupidez em sistemas políticos democráticos
Conceitos frequentes entre os estúpidos:
5.1- Essa malta é
toda igual!
Um dos mitos mais
comuns entre os eleitores estúpidos é que os partidos e os políticos são todos iguais.
É simplesmente o sintoma de uma deficiente capacidade de avaliação, porque frequentemente
existe mais de uma dúzia de partidos políticos à escolha, com ideias, programas
e pessoas bem distintas:
Para conseguir
compreender essas diferenças os estúpidos teriam que possuir capacidade de
avaliação, na prática teriam que deixar de ser estúpidos.
5.2- Mimetismo e instinto de rebanho
Um
estúpido não vota num partido no qual não exista alguma adesão social.
Para
ele será inconcebível votar num partido simplesmente porque concorda com ele,
se não tiver a perceção de que muitas outras pessoas também votarão assim.
Os estúpidos
tentam orientar o seu voto conforme tendências eleitorais, reais ou imaginárias
e têm tendência a votar naqueles com "dinâmica de vitória".
5.3- Clubismo
Os
estúpidos veem frequentemente os partidos políticos como "seus",
ligam-se afetivamente a eles:
São do
partido A ou do partido B, e defendem o "seu" partido da mesma forma que defenderiam o seu clube.
5.4- Extremismo
Para um estúpido a simplicidade de valores e ideias do extremismo são apelativas, portanto partidos e candidatos extremistas
podem ter bastante recetividade.
Adicionalmente, o extremismo por vezes defende princípios valorizados pelos estúpidos::
- Xenofobia, incluindo expulsão dos imigrantes
- Perseguição de minorias: são menos "coisas esquisitas" e
diferentes
- Autoritarismo
- Patriotismo
As ideias extremistas, se forem inicialmente
muito minoritárias, colidem com o espírito de rebanho, porém, uma
vez criando-se a noção de que o
extremismo tem algum peso social existirá uma adesão em massa de estúpidos: esta é a
versão eleitoral de populaça.
5.5- Desilusão, desresponsabilização e voto de protesto
Inevitavelmente,
devido às graves deficiências em sabedoria, um estúpido irá votar contra os
seus próprios interesses como cidadão, elegendo políticos incompetentes e corruptos.
É aí
que se atinge o cúmulo da estupidez eleitoral:
O estúpido fica de tal forma aborrecido com suas más escolhas anteriores que resolve expressar um voto de protesto (contra si próprio) votando ainda pior, no partido ou candidato mais extremista ou anti-sistema que encontrar e onde percecione que existirá alguma adesão.
Este
voto de protesto (contra a sua própria estupidez) já provocou catástrofes
históricas notáveis, incluindo a eleição de Adolf Hitler.
6- Reduzir o Quociente de Estupidez
Embora certamente existam razões biológicas e genéticas que
condicionem o melhor ou pior funcionamento do Neocórtex, a estupidez pode, em
certa medida, ser reduzida.
A mente pode ser treinada para questionar mais,
inclusivamente (e principalmente) aquilo considerarmos inquestionável.
Podemos treinar-nos a enfrentar conceitos novos, saindo
frequentemente da nossa zona de conforto mental, contactando com culturas
diferentes e com estilos de vida invulgares.
Provavelmente, será possível reduzir drasticamente os níveis
de estupidez, através da educação e do treino. Neste campo o combate à Estupidez
tem grandes semelhanças com o combate à obesidade: Precisamos de treino
constante, questionando.
Enfim, certas gorduras todos teremos sempre, eventualmente
alguma fixação pelo nosso clube ou no patriotismo. Um pouco de gordura localizada não condicionará, de forma determinante, a nossa vida ou a
vida da sociedade.
O grande problema é a Estupidez Mórbida, essa sim um grave
problema de saúde pública ao condicionar a própria sociedade.
6.1- O treino
Reduzir os níveis de estupidez implica conseguirmos questionar diariamente pelo menos três coisas que consideremos óbvias.
Por exemplo: O céu é azul.
O céu é azul?
Não, de noite não é, certamente. Ou seja, em pelo menos 50% do tempo o céu não é azul.
Além disso, por vezes o tempo está nebulado e o céu é cinzento.
Frequentemente também está avermelhado, ao nascer e pôr-do-sol.
Portanto, na maior parte do tempo, o céu não é mesmo azul!
E isto ainda antes de irmos para outros planetas...
Questionar sozinho é perfeitamente possível mas um
deficiente de neocórtex dificilmente o conseguirá. Portanto é essencial
existirem outros interlocutores ou mesmo um personal trainer.
Curiosamente é um treino que pode perfeitamente ser realizado via redes sociais, se os intervenientes compreenderem perfeitamente o que estão a fazer.
Curiosamente é um treino que pode perfeitamente ser realizado via redes sociais, se os intervenientes compreenderem perfeitamente o que estão a fazer.
6.2- A caverna
O objetivo de questionar é permitir ver as coisas por um ângulo
diferente. Essa visualização é incrivelmente importante. É como sair da caverna
de Platão: nunca mais esqueceremos o que vimos. Até podemos voltar à caverna
porque lá nos sentimos mais seguros mas agora sabemos que as figuras que passam
nas paredes são sombras.
Se as pessoas questionarem uma única vez aquilo que consideram
inquestionável nunca mais o esquecem. Saíram da caverna.
Conhecer diferentes perspetivas, perceber que
existem e contactar com elas é algo que melhora a nossa sabedoria.
Isto não é apenas defender uma determinada posição, em detrimento de outra: É conseguir defender (e perceber) ambas.
Um dos bons treinos é precisamente defender um determinado
ponto de vista particularmente polémico e depois trocar de posições.
Visitar as várias cavernas.
7- Testes de Quociente de Estupidez
Dado que algumas das principais caraterísticas da estupidez
estão identificadas (ponto 3) é então possível criar testes que meçam o
Quociente de Estupidez, em função da presença ou da intensidade desses princípios num individuo.
A determinação deste Quociente permitirá aferir e melhorar a
eficiência dos treinos e até mesmo apostar numa educação anti-estupidez.
Versão 1.2, Lisboa, Outubro de 2018
Agradecimetos:
Agradeço as pistas fornecidas por muitas e diversas entidades, de Donald Trump à claque do SCP mas, muito especialmente, agradeço aos apoiantes de Messias Bolsonaro, cerca de metade da população brasileira e que possibilitaram uma momento de Eureka, dando origem a esta teoria.
Mordaz e delicioso!!!
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